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Words

Se uma imagem vale mais que mil palavras, então, aqui se escrevem por mil palavras, no mínimo, uma imensidão de imagens. É o principio de uma viajem pelas letras, entre linhas e parágrafos, a tentativa de por o mundo no papel de uma forma, pelo menos para mim, diferente do meu porto seguro. Tentemos!

Dois Lugares.

Naquela manhã o comboio chegava dois minutos atrasado. Havia quem refilasse. Outros, mais alheios, ignoravam evitando cruzar os olhos com os passageiros de todos os dias. Dois silvos ressoaram no apeadeiro arrepiando-me as costas, fazendo crescer em mim a certeza de ainda estar vivo. Um enorme bando de pombos bateu as asas agitando o pó dourado pelo sol. Depois, poisaram no alpendre. Um tresmalhado, mais lento, provavelmente sábio, pendurou-se no relógio observando-me, inclinava a cabeça, muito curioso. Atrás de mim entrou um homem, vestindo um sobretudo cinzento, trazia um caminhar sorumbático. Arfava um ar embaciado que entrava e saía da boca esforçadamente.

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Frederico van ZellerComment
A primeira hora.

Levaste-me à primeira, com aquele sorriso lúbrico. Um feitiço talvez, não sei, um soslaio demorado que me levou ao interior da eternidade. Soubeste sorri-me em tal momento que, no peito que trazia descoberto, no olho certo, ali se cravou demoradamente.

    Lembro-me que era de manhã e o Sol procurava-nos em cada buraco da cidade,  entre as sete colinas ainda mergulhadas num manto de pó azul. 

 
 
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Frederico van ZellerComment
Entre o preto e o branco.

    Era uma coisa muito complicada. Uma fotografia a preto e branco e o preto desmaiava de tão cinzento. A maneira como o branco se separava da prata intrigava-o. Estudou aquela imagem durante toda a manhã. Um quadrado de cinco centímetros com arestas onduladas, mas os seus olhos cansaram-se depressa. Então,  devagar, sentou-se na cadeira junto à janela. 

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Frederico van ZellerComment
Ensaio sobre o sossego.

Haverá algo mais desassossegado do que alguém que contempla o mar, se não, o seu próprio sossego? O sossego que carrega nos ombros curvos e pesados. Na sombra que teima por atalhos dúbios. Nos pensamentos distantes e vagarosos que, ao pé do mar, ao lado da sua sombra, debaixo do sol, parecem ficar quietos. Esperam pelo rebentar de mais uma onda, pela espuma branca tocada ao vento. Um vento quente de um outubro estranho. 

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Frederico van ZellerComment